Na sexta-feira, 13 de novembro, fui a Búzios a convite de uma cliente. Senti-me emocionada ao saber que chegava no dia do aniversário da cidade. Achei o máximo! Adoro esses astrais que promovem encontros e oportunidades para tornar nosso dia especial.
Apaixonei-me pela cidade, minhas verdadeiras paixões são sempre à primeira vista. Fiquei seduzida pelo ambiente, pelo carisma das pessoas, pela simplicidade de uma cidadezinha litorânea, pitoresca e deliciosa. Meu trabalho também é o meu lazer, não espero chegar minhas férias, pois esta palavra não existe no meu glossário. Portanto, aproveito os bons momentos como algo novo e especial para absorver a essência.
Eis que surgiu a idéia desta minha cliente de eu conceder uma entrevista para o jornal O Perú Molhado, considerado o jornal mais lido da cidade, com uma boa tiragem semanal. Reza a lenda da cidade que quem sai neste jornal torna-se cidadão buziano. Imaginem se eu não adorei a proposta!!! Claro que sim, meu self jovem adora ver meu self discursivo expressar a sabedoria do meu self profundo.
Antecipadamente, mandei meu release para a redação do jornal, com um bom conteúdo informativo sobre minha proposta como profissional, antecipando, assim, a pauta ao entrevistador, a fim de tornar a entrevista mais objetiva e produtiva. Existem perguntas que realmente comprometem a capacidade intelectual de qualquer pessoa, principalmente, quando o repórter não percebe que nós, bruxas, somos mulheres de carne e osso, com potencial humano e intelectual imenso e não aquelas fantasias usadas, por crianças e adultos, no Halloween e no carnaval.
Ok... pensei com meus botões, metade do caminho percorri e não vai haver maiores problemas, visto que eu apenas precisarei explicar melhor o que é Bruxaria. Por ser uma tradição basicamente oral, melhor falar do que enviar um material pronto. Para contribuir, mandei dois exemplares do meu livro Encontre-se Com Esta Magia! para a redação do jornal aos cuidados da diretora comercial para que ele fosse, ao menos, folheado pelo repórter. Penso em quase todos os detalhes, previamente, para que depois eu possa relaxar e curtir a matéria desde o princípio.
No primeiro instante, senti uma sensação desconfortável. Primeiro, porque o repórter, apressadamente, me atropelou com duas perguntas e com o gravador ligado. As duas perguntas que me foram feitas foram:
- Qual o seu nome?
Meu nome? Respondi confusa – Mônica Romcy Mohr, não... espere um pouco, prefiro ser apresentada apenas como Mônica Mohr, afinal é este o nome que uso publicamente. (Para que vocês entendam: nome no meu caso é uma coisa engraçada, tenho um nome civil e um nome mágico, qual deles eu deveria naquele momento usar?)
- Você se denomina...
Não deixei nem completar a derradeira pergunta, afinal, para boa entendedora, eu sabia antecipadamente como a pergunta seria formatada. Help, posso antes ir ao banheiro? Ah, me safei logo pra dar tempo de respirar, não suporto sentir-me sufocada, principalmente pela afobação alheia.
Minha intuição nesta hora pulou, achei o entrevistador meio descompensado, opinião que deixei de lado no momento seguinte, quando a própria diretora comercial comentou num momento que ele havia se afastado do grupo. Olha, ele é um cara muito legal, veja só, era coveiro e como gostava muito de escrever hoje trabalha no jornal. Meu lado piegas achou tão interessante a breve história de vida dele relatada pela sua colega, que espantei toda e qualquer sombra que pudesse pairar na minha mente. E ai... bem, antes não tivesse deixado minha percepção aguçada de lado! Enfim, o mal sempre traz o bem na garupa. Em breve, vocês entenderão o que estou querendo dizer!
Quando voltei para começarmos a entrevista, o comentário do moço com o gravador na mão foi: ela é realmente uma bruxa, estava agora mesmo perguntando para tua sócia se você se denominava bruxa e você chega falando exatamente sobre este assunto.
Eu sou uma criatura pensante que funciona muitas vezes na velocidade da luz e tem uma memória de elefante, contudo, se minha memória fosse de formiguinha creio que poderia também ter guardado na mente que está seria a primeira pergunta a ser feita, há mais de 15 anos concedendo entrevista sobre o mesmo assunto, esta foi sem dúvida a que mais repercutiu. Ela é mais ou menos do tipo: Toca, Raul!!! Seria elementar, meu caro Watson, que ela fosse feita!
A entrevista transcorreu num super clima, descontraído, leve, apesar de ter sido gravada ao ritmo da passagem de som de uma banda Gospel, num lugar convidativo, o Chalé das Delícias. O nome faz jus a casa, apesar de pessoalmente não ter provado nenhum quitute do estabelecimento.
Logo no início da conversa eu pontuei que pelo meu carisma, pela minha maneira de ser, eu tinha, entre meus clientes, pessoas de várias religiões, desde católicos, evangélicos, budistas, judeus, kardecistas, umbandistas, candomblecistas, xamãs... Sou procurada por ter uma postura imparcial, não prego religião, não defendo dogmas e não provoco desconforto pelo respeito que tenho à liberdade religiosa.
Aliás, sou contra todo o tipo de preconceito, minha intenção é quebrar paradigmas, desmistificar tabus, orientar o indivíduo conforme a sociedade a que ele pertence. Caso ele esteja fora do padrão esperado pela comunidade, farei o possível para integrá-lo ao universo a que ele pertence, vide o mito do Patinho Feio.
Também argumentei que seria muito interessante ler Operação Cavalo de Tróia, para aqueles que, como eu, discordam do marketing feito pelas Igrejas Cristãs sobre a cosmogonia do Universo e da lenda urbana criada sobre a figura de Jesus Cristo. Meu parecer é que, se dependesse realmente dele, não existiria Igreja Cristã. Houve sim uma distorção do pensamento e das ações dele e a ele não foi dado o direito de resposta.
No meu ponto de vista, não foi a crucificação que o imortalizou, foram os marqueteiros de plantão que resolveram criar uma nova religião, que nasceu do medo que eles próprios sentiram quando seu líder revolucionário foi morto. Em síntese, transferiram a opressão que sentiam dentro da própria confusão mental que se instalou entre eles, e subjugaram ao povo ocidental uma crença que perdura há quase dois séculos. Não podemos computar como há 2009 anos, visto que a religião cristã foi reconhecida, depois da ‘ascensão do seu líder’ e não antes como enfatiza o clero.
Essa é minha opinião, essa é a maneira como vejo o processo catártico religioso em questão. Porém, não questionei em momento algum o processo iniciático de Maria, sendo ela a personificação da Deusa na Terra, ela foi a força da palavra e da ação no seu tempo, deixou para seus devotos o direito de compreenderem a cristalização do verbo feita no seu ventre.
Eu tenho meu pensamento formado a respeito. Isso não me faz a dona da verdade. E meu pensamento foi construído do lado de dentro, quando eu pertencia e liderava movimentos católicos, inclusive fui catequista com 14 anos de idade. Meus conhecimentos foram me distanciando da Igreja, mas sempre conservei amigos e entre eles padres e cristãos. Penso que se a mulher é o portal do nascimento, porque Deus tem que ser macho e não fêmea, ou porque não ser fêmea e macho? Eu acho a combinação perfeita entender o universo através da cosmogonia do casal divino.
Até mesmo um ateu vive baseado em suas crenças, não é mesmo? Apenas não permito que me use como bode expiatório para vomitar a sua crença. Jamais eu, consciente ou inconscientemente, insultaria a imagem da Grande Mãe. Ofender uma Deusa, já tão triste, em nada me beneficia, não me torna maior e nem melhor. Apenas muito me entristeceu quando vi que fui usada para agredi-la. Não a temo, respeito-a e respeito seus devotos porque também sou! De um jeito peculiar, único, porque é meu jeito, mas sempre valorizando a força feminina que encontro nos lares e altares cristãos.